Um ambiente seguro e com mudanças o tempo todo ajuda os pequenos a fazer descobertas sobre o espaço, os objetos, os colegas e sobre si mesmos
DISFARCE PERFEITO Unida a estruturas estofadas e uma cortina, a mesa compõe uma estação de atividades.
Qual das duas situações seguintes você acha ideal para o desenvolvimento das crianças na creche? Na primeira, elas ficam seguras, sentadas em cadeiras ou nos berços, enquanto esperam a hora do almoço. Apesar de serem poucos, os brinquedos ficam bem organizados em um canto. Na segunda, alguns dos pequenos brincam em grupos, enquanto outros exploram chocalhos e livrinhos. Existe muito movimento e sonoridade no ambiente e o educador parece não dirigir as atividades. E assim segue a rotina, até a hora do almoço.
Alguns anos atrás, a primeira cena era considerada mais correta. As creches tinham equipes prontas para oferecer cuidados, dar estímulos contidos e manter os espaços em ordem.
Hoje, a visão é diferente. Sabe-se que o desenvolvimento dos pequenos está ligado a dois fatores básicos: a movimentação pelo ambiente e as descobertas sobre os objetos, os outros e sobre si próprios. Por isso, a segunda situação é a proposta mais adequada. Atenta a essa concepção, Ieda Marisa Acerga encarou a falta de espaço físico no CEI Morro do Meio, em Joinville, a 180 quilômetros de Florianópolis, como um desafio para exercitar a criatividade em prol da organização de um ambiente cheio de aprendizagens.
Ao repensar o uso de itens comuns ao cotidiano da creche, ela criou formas de mudar com frequência os desafios para colaborar com o desenvolvimento dos bebês. Na sala, uma das atrações é a mesinha que se transforma em uma estação de atividades ao receber uma cortina e estruturas estofadas - de um lado, uma rampa e, do outro, uma escada. "Ao se depararem com o novo, eles reagem com entusiasmo. Começam a explorar tudo e percebem que o lugar onde estavam ontem já não é igual ao de hoje", conta.
Também fazem sucesso as caixas de papelão (com aberturas variadas e cobertura de papéis texturizados), os colos artificiais (feitos de pneus com espuma e capas de tecido) e as tendas (de tecido e madeira), além dos berços, que, sem os estrados e cobertos por um tecido transparente, formam um divertido túnel. As criações de Ieda - ela mesma adaptou tudo sob medida - foram tão bem recebidas que outras educadoras aderiram a algumas das ideias. "Há quem monte tendas no pátio, dando às turmas a possibilidade de explorar os espaços da creche de outra maneira", explica. A preocupação reflete a premissa de que a criança apreende o mundo pela experiência ao testar as possibilidades de diferentes objetos e espaços. Ieda sempre planeja as alterações. Quando os pequenos vão embora, ela monta as atrações do dia seguinte. Para realizar as mudanças mais trabalhosas, ela pede a ajuda de outros funcionários da creche.
É importante conhecer as necessidades das crianças
Observar como os pequenos ocupam o espaço físico, como manejam os objetos e como e em quais situações a turma interage pode render intervenções. Telma Vitória, professora de Fundamentos da Educação Infantil na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió, destaca que a preparação de salas para a Educação Infantil deve ser intencional, com todas as escolhas ponderadas pela equipe da creche (leia o plano de trabalho no quadro da página seguinte). "Organizar um espaço adequado para as crianças requer conhecimentos diferentes daqueles que as mães colocam em prática intuitivamente em casa. No ambiente institucional, além do acolhimento, elas precisam ter segurança para se movimentar com liberdade", afirma.
DESAFIOS SEMPRE Colos artificiais, tendas e caixas com aberturas possibilitam descobertas espaciais e sensoriais
A percepção do ambiente pelos bebês se dá principalmente de duas maneiras: ora eles buscam segurança e afeto em alguém familiar, como a mãe e o educador, ora têm a atenção desviada por novidades que lhes despertam a curiosidade. O equilíbrio dessas duas condições é indispensável. Um espaço sem modificações, mesmo que conte com a presença de adultos conhecidos, acaba restringindo o desenvolvimento deles. O oposto também pode ocorrer: situações novas e sem o cuidado de uma pessoa de confiança podem provocar medo. A melhor solução é o educador transmitir segurança com sua presença, enquanto todos ficam livres para explorar o espaço de maneira espontânea.
Eventos inesperados motivam novas aprendizagens
Algo que fica fora do cenário ideal é a rigidez da rotina. Quando as crianças se veem em ambientes com diferentes e novas oportunidades, vão logo explorá-los, em geral por imitação. Determinar que todos façam uma única tarefa é limitar essa experiência individual. "Infelizmente, a maioria das creches ainda organiza o tempo de forma pouco flexível, o que acarreta a construção de um sentido artificial ou precocemente fragmentado do tempo", explica Telma.
No livro Creches: Criança, Faz de Conta e Cia., ela destaca que as rotinas precisam ser organizadas, sim, mas que isso deve ser feito de modo a dar aos pequenos chances de desenvolver a relação tempo/espaço. Outro aspecto a ser observado são os imprevistos. As crianças sempre têm iniciativas ao longo das atividades, como fazer questionamentos durante uma leitura. Além disso, podem levar um brinquedo ou um jogo diferentes para a creche. Isso não será um problema se o professor incluir a novidade na rotina daquele dia sem se distanciar do planejamento básico.
A aprendizagem em ambientes com muitas possibilidades é mais intensa do que naqueles em que o cotidiano é estruturado com base em restrições. Considerar o aspecto lúdico e assumir a postura de apoiar as atividades significa, nessa faixa etária, contribuir para a construção de conhecimentos imprescindíveis.
Eventos inesperados motivam novas aprendizagens
Algo que fica fora do cenário ideal é a rigidez da rotina. Quando as crianças se veem em ambientes com diferentes e novas oportunidades, vão logo explorá-los, em geral por imitação. Determinar que todos façam uma única tarefa é limitar essa experiência individual. "Infelizmente, a maioria das creches ainda organiza o tempo de forma pouco flexível, o que acarreta a construção de um sentido artificial ou precocemente fragmentado do tempo", explica Telma.
No livro Creches: Criança, Faz de Conta e Cia., ela destaca que as rotinas precisam ser organizadas, sim, mas que isso deve ser feito de modo a dar aos pequenos chances de desenvolver a relação tempo/espaço. Outro aspecto a ser observado são os imprevistos. As crianças sempre têm iniciativas ao longo das atividades, como fazer questionamentos durante uma leitura. Além disso, podem levar um brinquedo ou um jogo diferentes para a creche. Isso não será um problema se o professor incluir a novidade na rotina daquele dia sem se distanciar do planejamento básico.
A aprendizagem em ambientes com muitas possibilidades é mais intensa do que naqueles em que o cotidiano é estruturado com base em restrições. Considerar o aspecto lúdico e assumir a postura de apoiar as atividades significa, nessa faixa etária, contribuir para a construção de conhecimentos imprescindíveis.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/0-a-3-anos/dia-mudanca-ambiente-espaco-creche-moveis-517927.shtml
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