sábado, 24 de março de 2012

* Como incentivar a comunicação oral na creche


Quando as crianças começam a falar, a interação com os educadores ganha mais importância para que a oralidade seja desenvolvida adequadamente

As primeiras palavras. Foto Pedro Motta. Ilustração Olavo Costa

 A educadora Viviane Glanzmann, da UMEI Santa Izabel, oferece aos pequenos modelos de respostas sem restringir o vocabulário.

Durante toda a vida, as pessoas mais velhas - e suas atitudes - servem de exemplo para as mais novas. Como isso é muito mais intenso nos primeiros anos, a creche representa um espaço propício para que as crianças entrem em contato com padrões. Na fase até os 3 anos, em que a fala tem um grande desenvolvimento, os educadores devem ser cuidadosos nos exemplos que transmitem a elas.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, publicado pelo Ministério da Educação (MEC), indica que um dos objetivos dessa etapa da escolaridade é ampliar a fala da criança em contextos comunicativos para que ela se torne uma falante competente.

"A comunicação oral ocorre a todo momento no espaço educativo, e não apenas durante as atividades coletivas", alerta Ana Paula Yazbek, diretora pedagógica do Espaço da Vila, em São Paulo. Esse olhar atento à oralidade é uma preocupação comum aos educadores da UMEI Santa Izabel, em Belo Horizonte.

Frases como "Perfessola, posso o ajudante de hoje?" e "Não tucigo pegá o biquedo" são comuns na sala da educadora Viviane Glanzmann, que atua na escola mineira. Logo após os pequenos se expressarem dessa forma, ela fala corretamente, oferecendo um modelo de resposta (leia nos balões da foto alguns exemplos de diálogos ocorridos na Santa Izabel). Nessa troca sutil, eles aprendem as palavras adequadas sem ficar intimidados.


* Os erros mais comuns:


Considerar o berçário um lugar de silêncio. É preciso conversar com os bebês. Eles são interlocutores ativos.

Usar diminutivos e infantilizar as expressões. As crianças compreendem se você falar normalmente com elas.

Prestar atenção apenas na fala dos pequenos. Gestos e atitudes também indicam o que a turma quer dizer a você.

Restringir-se a palavras próprias da primeira infância. Diversifique o vocabulário para desenvolver a oralidade.

Agir antes de a criança falar. Ela deve se esforçar para a comunicação acontecer.


Atitudes corretas ajudam a tirar a criança da zona de conforto 

Diferentemente do que grande parte dos adultos gosta de fazer, não é recomendável recorrer a diminutivos e termos infantilizados durante o contato com os pequenos. "Esse tipo de atitude se baseia no princípio de que eles não entendem nada do que está sendo falado e gera uma conversa artificial", comenta Ana Paula. "Não se deve minimizar a capacidade deles de participar desse mundo novo que se apresenta."

Dois aspectos que podem colaborar para a comunicação são a sensibilidade e a predileção por determinados tipos de som. Segundo Tacyana Ramos, professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), é comum as crianças se mostrarem receptivas à voz feminina ou à que tem o tom mais agudo. "Elas começam a responder não pelo conteúdo semântico, e sim pela entonação e pelo comportamento do interlocutor", afirma. Mas não se deve cair na armadilha de tentar agradar a turma (leia o quadro na página anterior). "Pode-se recorrer a uma fala melodiosa, pois os bebês são mais sensíveis a determinados sons, mas o diminutivo não precisa ser usado só porque eles são pequenos", enfatiza Tacyana.

Há também muitas situações em que o adulto empresta a sua voz para os que estão começando a falar. Sempre que isso ocorrer, deve-se respeitar a sequência de um diálogo. Em vez de perguntar "quantos anos você tem?" e logo em seguida emendar a resposta, é adequado fazer um intervalo. Dessa forma, a criança é colocada no lugar de interlocutora e tem a chance de se posicionar. É igualmente importante tomar cuidado para não deixar os pequenos em sua zona de conforto. Se um deles olha para a água e alguém rapidamente vai servi-lo, ele não vai sentir a necessidade de se expressar. O educador deve incentivá-lo a falar ou expressar de alguma forma seu desejo.


Gestos e balbucios também colaboram com a interação 

A atenção dos adultos à comunicação com os pequenos não está restrita apenas ao que é verbalizado. No momento de contar histórias, por exemplo, você deve notar quais reações são geradas por suas atitudes durante a leitura. A turma pode demonstrar seus comentários ao apontar o livro, balbuciar, bater palmas e dar gritinhos. Todas essas ações também constituem a linguagem. Ao identificar essas respostas, o educador pode falar as frases correspondentes a elas como uma forma de confirmar às crianças o que foi entendido. As frases do adulto servem, mais uma vez, de exemplo para que os pequenos evoluam em sua comunicação oral e entendam como a utilizar para demonstrar suas emoções.


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/primeiras-palavras-muito-alem-gugu-dada-680003.shtml

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