segunda-feira, 14 de maio de 2012

* Alfabetização: como trabalhar linguagem e reflexão sobre o sistema juntos


Saiba como articular as práticas de leitura e de produção de texto à reflexão sobre a escrita durante projetos e sequências didáticas

Combinação perfeita. Foto Paulo Vitale. Ilustração: Anna Cunha

Ao pesquisar sobre um animal, as crianças aprendem sobre ele e sabem o que escrever quando o professor pede que nomeiem as partes do seu corpo. Elas podem, assim, refletir sobre o sistema alfabético e definir que letras usar e em que ordem.


"O que Chapeuzinho Vermelho pergunta primeiro ao Lobo: que olhos grandes você tem ou que orelhas grandes você tem?", indaga a professora após apresentar o conto à turma do 1º ano. Resolver esse problema é um grande desafio para quem está no início da alfabetização. Afinal, responder com segurança exige voltar ao texto e buscar as palavras olhos e orelhas, que começam e terminam com as mesmas letras. Propostas como essa, que tem por objetivo levar à reflexão sobre o sistema de escrita durante a leitura e a produção de texto, ainda são raras nas nossas salas de aula. 

A tarefa de pensar sobre o funcionamento da escrita tem ficado restrita às atividades permanentes, com listas e textos memorizados, como cantigas e parlendas. Nada contra elas - que podem e devem continuar na rotina. Mas por que não aproveitar os momentos em que as crianças estão lendo ou produzindo um texto sobre um animal na aula de Ciências, por exemplo, para também levá-las a pensar sobre os aspectos do sistema alfabético e as relações grafofônicas? "Combinar a reflexão sobre a escrita com as práticas sociais de leitura e produção de texto é muito mais efetivo", diz Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. 

Uma boa proposta de alfabetização requer planejamento e pressupõe saber como os alunos escrevem, organizar a rotina em projetos, sequências e atividades permanentes e escolher bons materiais de leitura e estudá-los. Além disso, não podem faltar em sala as letras do alfabeto, a lista de nomes dos estudantes, livros e os textos da garotada. Assim, na hora de escrever, todos poderão se apoiar em palavras conhecidas ou verificar em fontes oficiais se as antecipações feitas estão corretas. 

Veja um exemplo: os alunos leem a capa de um livro ilustrado com um elefante e cujo título é Animais. Ao ler, eles antecipam - com base apenas na imagem - que a obra se chama Elefantes. Para que se apoiem no texto, você pergunta qual a primeira letra da palavra elefantes. Alguém responde "E", volta ao texto para ver se está correto e se depara com o A. "É como um jogo: se a antecipação não é adequada para resolver o problema, é preciso procurar outras pistas", explica Diana Grunfeld, presidente da Rede Latino-Americana de Alfabetização, na Argentina. 

À medida que avançam em suas hipóteses de leitura e escrita, os estudantes desenvolvem, com base no trabalho do professor, alternativas de verificação cada vez mais sofisticadas. Inicialmente, diferenciam as figuras dos textos. Depois, imaginam que só é possível ler algo com mais de três letras. Por fim, fazem análises qualitativas, verificando principalmente as letras iniciais e finais de cada palavra. A todo momento, devem estar tranquilos para escrever como sabem e cientes de que terão todo o ano para aprender. 

Para que você possa ajudar ainda mais a turma nesse trajeto, nas páginas seguintes, mostramos na forma de história em quadrinhos seis atividades de reflexão sobre o sistema inseridas em situações de leitura e de produção de texto. Elas fazem parte da sequência didática A Diversidade dos Animais, elaborada pela equipe de Práticas de Linguagem da Divisão de Educação Primária de Buenos Aires, na Argentina. A intervenção do professor, como você verá, é essencial para que o aluno compreenda como se escreve.

Utilizar um índice ou uma lista

Sozinhos ou em grupos, os alunos devem folhear livros e enciclopédias para interpretar ilustrações e encontrar informações sobre animais. Mostre o índice de algum dos volumes consultados e explique de que forma ele ajuda a localizar o que procuramos. Distribua cópias de parte do índice ou de uma lista com nomes de bichos que começam com a mesma letra. Leia os nomes em uma ordem aleatória e não aponte para cada um deles enquanto lê. Escolha um termo e proponha uma discussão.


Para responder qual é CANGURU, os alunos pensam e voltam ao texto para verificar a resposta. Depois, justificam a escolha e reavaliam suas ideias com base no que os colegas disseram. As crianças têm diferentes saberes sobre a escrita e procuram o termo com base na análise sonora e nas letras iniciais e finais, observam a palavra na totalidade ou identificam nela parte do nome do amigo. Socializar as respostas e os procedimentos utilizados por cada um ajuda todos a avançar.


Escrever e analisar a informação registrada

Como preparação para um estudo de campo, defina com os alunos os materiais necessários, os animais a serem pesquisados, que características observar e como tomar notas. Forme grupos de três e explique que cada criança deve escrever o nome do animal que irá observar e informações como número de membros e tipo de revestimento. De volta à sala, é hora de ler as anotações, compartilhá-las e revisá-las. Passe pelos grupos, observe como escreveram e inicie a discussão.


As intervenções feitas em sala levam as crianças a descobrir contradições e lacunas em suas anotações. Ao revisá-las e confrontá-las com as dos colegas, elas colocam em jogo várias práticas de leitura e escrita: leem suas anotações e ouvem as dos outros, comparam os dados registrados, discutem sobre qual informação convém ou não tirar do texto que escreveram e completam as próprias anotações. Com isso, reavaliam suas ideias e avançam em suas hipóteses de escrita.

Completar uma tabela e analisá-la

À medida que segue o estudo sobre os animais, organize com as crianças as informações pesquisadas nos livros e durante o trabalho de campo. Uma tabela é preenchida conforme elas ampliam os conhecimentos sobre o tema. Faça uma cópia dela, deixando algumas colunas vazias para que a turma complete com os dados correspondentes.


As discussões são iniciadas com Taís e Francisco para que todos entendam como deve ser o trabalho em dupla. As questões colocadas fazem com que as crianças justifiquem suas escolhas, explicitem seus argumentos e interpretem seus escritos para os demais. Francisco tem uma hipótese de escrita silábica com valor sonoro convencional e a reflexão de Taís traz problemas novos para ele, o que é muito útil nesse momento da aprendizagem.

Ler para preencher um álbum

Os alunos devem completar um álbum de figurinhas. Escolha uma das páginas em que aparece um tipo de animal - por exemplo, os peçonhentos. Peça que as crianças leiam o nome registrado abaixo do espaço reservado para cada imagem antes de selecionar a que será colada. Além de ampliar os saberes sobre os bichos, a turma deve refletir sobre a língua escrita.


conhecimentos prévios dos alunos são levados em consideração pela professora, que faz diferentes perguntas para que todos avancem. Com isso, ela possibilita a reflexão sobre aspectos quantitativos (o tamanho da palavra e o número de letras que a compõem) e os qualitativos (quais letras usar). Os mais avançados podem comparar termos que começam e terminam da mesma forma. Assim, pensam a respeito da palavra como um todo.

Escrever legendas

Proponha que, em duplas, os alunos façam legendas para imagens de animais. Eles devem escrever o nome das partes do corpo indicadas com setas e algumas características relacionadas ao conteúdo. Para ajudá-los a resolver as dúvidas, deixe ao alcance de todos as letras do alfabeto, uma lista com o nome dos alunos, fichas com as anotações sobre os animais estudados e livros diversos.


As intervenções da educadora contribuem para que a turma perceba as diferenças entre o falado e o escrito, como ocorre com os dois meninos. Além disso, ela cria situações que possibilitam às crianças se apoiar nas letras iniciais e finais das palavras para verificar se a antecipação que fizeram está correta. Esse foi o caso das duas garotas, que precisaram recorrer a um texto de referência para saber se estavam certas ou não ao escrever "patas traseiras".


Localizar informações

Peça que os alunos verifiquem se o que eles escreveram sobre as partes do corpo de um dos animais estudados em sala corresponde ao que informa a enciclopédia. Para isso, mostre a eles a página que contém as informações pertinentes.



Ao pedir algo específico, a educadora possibilita aos pequenos distinguir a imagem e o texto. Localizada a legenda, o desafio é encontrar uma parte da cadeia gráfica, ajustando o falado ao escrito, as letras e partes de palavras conhecidas. Nesse jogo entre a possibilidade de antecipação e a necessidade de verificação, a turma vai aprendendo a ler sem abrir mão do significado dos textos.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/alfabetizacao-como-trabalhar-linguagem-reflexao-sistema-juntos-683013.shtml

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