domingo, 10 de novembro de 2013

Birra: a hora de dizer não para a criança.

Por: Angela Senra 




Não é fácil lidar com os escândalos das crianças, mas os especialistas garantem: pais que sabem dizer não e sustentam essa posição têm mais chances de ajudar os filhos.  Tudo começa com um chorinho quando o bebê não consegue satisfazer seus desejos – subir na mesa, pegar o controle remoto, não devolver o brinquedo do irmãzinho. Mas o primeiro mandamento para
 lidar com a birra infantil é não se
 desesperar.
Gritar e perder o controle
 só reforça esse tipo de comportamento
 da criança, que entende
a sua reação como
 parecida com a dela.
Quando o pequeno percebe que conseguiu tirá-la
do controle e chamou a sua atenção, desconfia que
 você acabará cedendo, especialmente se
estiverem em público.
E, aí, salve-se quem puder.
Segundo a psicanalista infantil e familiar Anne Lise
Scappaticci, de São Paulo,
desde muito cedo as crianças aprendem a arte da
manipulação. “Da mesma
 maneira que sabem que agradam quando são boazinhas,
percebem que podem
 usar a birra para conseguir o que desejam”, diz.
A teima faz parte do
 comportamento infantil, como uma
tentativa de a criança
 demonstrar certa independência e
expressar suas vontades.
 E aparece por
 volta de 1 ano e meio de idade.
Quando a criança tenta conseguir o que quer através
de showzinhos, a dica é
dar um pouco de atenção, sem estender a bronca por
horas. Você pode dizer
que esse “não” é o jeito de conseguir o que ela quer e por
 causa disso não vai
 ter mesmo. E não fique assistindo ao espetáculo, a menos
que a criança esteja
 se debatendo e corra o risco de se machucar.
“Nesses casos, aconselho a abraçá-la e ir conversando
 até ela se acalmar”,
 afirma Anne Lise. Se o incidente ocorreu numa festa
de aniversário, por exemplo,
assim que cessar, volte para casa. Depois de um
escândalo como esse,
a criança não pode ser recompensada com diversão.
Segundo Vera Iaconelli, psicanalista e coordenadora do
 Gerar – Instituto
 de Psicologia Perinantal, se o ataque for muito intenso e
você estiver no
shopping ou no parque, vale levá-la até o carro para se
acalmar e, se for
 o caso, nem retornar. O problema é acabar com o
programa dos irmãos ou
da família toda. O ideal é tirá-la do local e mostrar que
 a birra não levará a
nada, que você não mudará de ideia. 
“Quando os pais aprendem a lidar com o filho, as birras
diminuem. Depois
 de uma ou duas vezes, ele aprende que a teimosia não
adianta e para de
insistir. Se isso não acontece, é porque a criança
descobriu
que fazer cena
 funciona e ela sempre ganha a parada”, diz Vera.
A maneira de lidar com esses conflitos é decisiva.
“Os pais precisam ser
 firmes,
mesmo que o filho chore e fique com raiva deles.
Se cedem a cada vez
que ele fica desapontado, acabam criando
uma pessoa
 que não suporta a
 frustração, tem dificuldades de relacionamento e fica
malvista pelos amigos,
que muitas vezes se afastam”, alerta Anne Lise.
O bebê está brincando, você precisa dar banho nele para
 sair, mas a criança
não quer. Ele se rebela e chora. Nessas horas, o truque é
mudar seu foco,
chamando a atenção para objetos e pessoas de que ele
gosta. Imagine se
os pais ou os
 cuidadores sempre cederem a essa pequena rebeldia?
Como conseguirão
 encontrar um momento para levá-lo à banheira? E quando
ele ficar maior,
serão os pais capazes de impor obediência?
A psicanalista Vera Iaconelli explica que a capacidade de
 aceitar regras vai
se desenvolvendo ao longo do tempo e os pais não precisam
 fazer disso
 uma batalha, entrando em constante confronto com a
criança.
“Alguns pais têm tanto pavor da birra que negam tudo,
vetando qualquer
chance de o filho se revoltar e descobrir por si só o que quer.
O equilíbrio
 está em selecionar o não para coisas realmente importantes,
como morder e
bater nos outros ou nos objetos, colocar o dedo na tomada,
atravessar a rua
 sem dar a mão. 
Se seu filho sempre se comporta como um birrento, atenção!
“Apesar de ser
frequente no universo infantil, o padrão indica um problema
 mais sério. É
 hora
de procurar ajuda de um especialista. Do contrário, a birra
 fará a criança
 se fechar
em uma ideia fixa, sem enxergar outras possibilidades”,
alerta Anne Lise.
É difícil enfrentar um comportamento quando ele
aparece pela primeira
vez. E é muito
comum a criança que nunca fez uma determinada
birra um dia se atirar
 no chão e fazer manha, deixando os pais atônitos.
Uma das explicações para isso é a imitação. Ela pode ter
 visto o amiguinho
fazer o mesmo, percebido que funcionou e tentar a sorte
 também. “O papel
 dos pais nessa hora é dizer não e tirar a criança do local.
Ponto final. Não caia
 na tentação de passar meia hora falando, dando corda
 para uma atitude
repreensível ou criticando a ação como se fosse a pior
coisa do mundo”,
 diz Vera.
“Até os 5 ou 6 anos, a criança não consegue manter a
concentração nas
 palavras por mais de 20 ou 30 segundos”, diz a psicóloga
 infantil e
terapeuta familiar Suzy Camacho, autora do livro Guia
Prático dos
 Pais (ed. Paulinas).
Por isso, é fundamental insistir nas regras. “Antes de
sair de casa,
converse com ela e deixe claro o que não será permitido.
Dependendo
 da idade, ela pode esquecer, daí a necessidade de repetir
 a história
 muitas vezes, até que ela aprenda.
Antes de chegar ao supermercado, por exemplo, deixe
claro o que será
possível comprar entre as guloseimas de que ela gosta
 e quando poderá
 comer. Caso ela abra o iogurte ou o pacote de bolacha
 ainda na loja ou
no carro, seja firme. Diga que não é hora nem lugar para
 comer aquilo e
coloque o produto em local fora de alcance. “A estratégia
é evitar o acesso
 fácil ao que é proibido e aguentar a birra, mesmo que
se sinta constrangido
 por estar em local público”, afirma Anne Lise.
Muitas vezes, os pais acabam dizendo sim, sim, sim por
pena de ver o filho
sofrer. Quem nunca teve ímpetos de aceitar levar um
brinquedo caríssimo
só de olhar para a carinha de choro de seu filho, implorando
no meio da loja,
 quando o combinado era não comprar nada?.
Segundo Suzy, no entanto, para criar pessoas equilibradas é
preciso que os
pais impeçam o filho de impor sempre sua vontade. “Quem não
quer ter um
ditador precisa dizer não. Crianças que nunca são contrariadas
 acabam se
tornando adultos infelizes, irritadiços, agressivos, depressivos,
 já que o mundo
 não dá o mesmo sim incondicional dos pais”, afirma Suzy.
O limite, explica Vera, é uma forma de evitar a teima e deixar
a criança mais
segura. “A criança sem limite se sente culpada, sem chão
, tem dificuldades
 para ficar longe dos pais. Quando eles são firmes,
 elas se sentem acolhidas
 e entendem que uma cena não os fará mudarem
de ideia.”
“Se os pais forem coerentes com o que dizem e
fazem, terão um filho
 disciplinado aos 7 anos e deverá seguir assim
pelo menos até a adolescência,
quando a rebeldia, uma nova forma de birra,
 ressurge em intensidade
variada, dependendo de como a criança vem
lidando com as
frustrações”, conta Suzy.

 





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