domingo, 10 de novembro de 2013

Sexualidade na Educação


As principais dúvidas sobre Educação Sexual

Aluno com deficiência intelectual se masturba durante a aula. Como agir?


No início da minha carreira como educadora sexual, fui convidada por uma escola a fazer um trabalho com alunos que tinham deficiência intelectual. Foi uma experiência muito rica para mim. Tão rica que virou livro, mas isso é uma outra história que vou contar em breve…
Tudo começou porque a escola em questão tinha um aluno, por volta de 18 anos, que costumava se masturbar no banheiro da escola. Só que, além disso, ele também foi surpreendido no pátio e, outra vez, na sala de aula.
Isso, sem dúvida, constrangia a todos e tirava a concentração de alunos e professores das atividades propostas.
E aí, o que fazer?
A diretora, sem saber como lidar com esta tensão que se criou na escola, chamou os pais do garoto, contou o que estava acontecendo e pediu que a família tomasse uma providência. A sugestão dada: levar o rapaz a uma casa de prostituição!
A diretora acreditava que o fato dele se masturbar era devido à necessidade de fazer sexo.
E o pior foi que a família aceitou a sugestão! O irmão mais velho levou o rapaz a uma casa noturna, escolheu uma garota e ela o levou para o quarto. Passado alguns minutos, a garota sai apavorada chamando alguém para socorrê-lo pois ele havia desmaiado!!!
O que deu errado?
Uma pessoa com deficiência intelectual tem uma resposta orgânica idêntica a das demais pessoas. Porém, sua maturidade pessoal e suas capacidades emocional, cognitiva e adaptativa podem ser muito distintas daquelas que seriam próprias à sua idade cronológica.
No caso desse garoto, se havia alguma imagem feminina que ele usava para se excitar, esta fazia parte de sua  imaginação, sua fantasia. Daí a saber lidar com uma mulher de verdade, de carne e osso… É um passo que nem todas as pessoas que têm deficiência intelectual são capazes de dar. Tudo depende das características de sua condição e das circunstâncias de vida.
Em uma pessoa que tem deficiência intelectual, o desenvolvimento psicossexual, em geral, não acompanha o desenvolvimento físico. Ele pode ter 18 anos de idade, mas o seu interesse sexual ainda pode estar direcionado, apenas, para a sensação prazerosa que as crianças, em geral, descobrem ao tocar os genitais. Se essa fase é alcançada quando o garoto já atingiu a puberdade, isso tende a se tornar um fator complicador na adaptação da pessoa com deficiência à sua condição corporal, pois é completamente diferente lidar com as curiosidades em relação ao corpo numa fase em que os caracteres sexuais secundários já estão formados e os hormônios agindo a todo o vapor. Na infância, a excitação se dispersa bem rápido. Já na adolescência, ela envolve a liberação de hormônios, o que requer um tempo maior para a dispersão ou uma atuação mais direta, como a masturbação.
O erro nesse caso foi lidar com o comportamento sexual dele como se fosse  o de uma pessoa adulta sem comprometimentos intelectuais. Esse garoto não estava precisando fazer sexo com uma outra pessoa, ele estava precisando aprender a lidar com o estímulo sexual  no ambiente escolar para conseguir respeitar as normas de convivência social.
Algumas sugestões de encaminhamento que a escola poderia fazer:
• Conversar individualmente com o garoto para descobrir se ele sabe o que está acontecendo com o seu corpo e  que a masturbação não é uma atividade permitida na escola – a interpretação do que está acontecendo com ele é fundamental para uma abordagem adequada;
• Ensinar de forma clara e sem subterfúgios  as mudanças na puberdade e o que o estímulo sexual pode promover no corpo dele – A pessoa com deficiência intelectual, por suas próprias limitações, já possui dificuldades para entender as modificações que acontecem no seu corpo. A desinformação tende a piorar o quadro. Ele, mais do que os demais, precisa de alguém que o “ajude a decifrar” o que está ocorrendo com ele.
• Deixar claro, numa linguagem que ele seja capaz de entender, as normas da escola em relação ao comportamento sexual. É importante para a adequação social desse rapaz que ele tenha e compreenda os limites. Se esses limites não forem colocados claramente, a pessoa com deficiência, por si só, não vai descobrir que está sendo inconveniente.
• Buscar identificar, junto com ele e a família, se há algum tipo de estímulo que está sendo provocado de forma tão recorrente, e ajudar a neutralizar este fato. Por exemplo, a dificuldade nas atividades escolares ou a discriminação dos colegas pode impedir de buscar prazer em outras atividades e fazê-lo centrar esta gratificação no sexo,  no caso a masturbação.
• Preparar o corpo docente e outros funcionários da escola para lidar com a sexualidade, principalmente nas pessoas com deficiência intelectual, em que a linguagem precisa fazer sentido para ele e o vocabulário empregado ser do seu conhecimento.
É muito importante que eles possam ter um espaço com quem compartilhar suas dúvidas sexuais e, também, que a escola valorize suas habilidades pessoais, como tocar um instrumento musical, participar de um esporte, desempenhar alguma atividade artística.
A inclusão escolar pressupõe acolher todas as pessoas na escola. Isso foi uma grande conquista! Mas, não basta estar na lei, é preciso ter profissionais habilitados tanto para lidar com os alunos com necessidades especiais: tanto para ensinar os conteúdos letivos como para lidar com suas limitações. Devemos entender que mesmo sendo diferentes, essas pessoas possuem os mesmos direitos que qualquer pessoa, inclusive na sua função sexual e reprodutiva.
O que você achou desse post? Tem alguma dúvida sobre esse assunto que gostaria de ver tratada aqui no blog?
Daqui a duas semanas postaremos um vídeo em que responderei às melhores perguntas sobre sexualidade nas pessoas com deficiências física ou intelectual.  Mande sua pergunta para nós!
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Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2013/11/07/aluno-com-deficiencia-intelectual-se-masturba-durante-a-aula-como-agir/

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