Levantamento aponta que 14% dos internautas têm entre 2 e 11 anos. Especialistas
orientam os pais sobre cuidados
Crianças na internet: para escapar do abuso, a palavra-chave é disciplina
Segundo um levantamento do Ibope Nielsen, encomendado pelo jornal Valor
Econômico, e divulgado no início deste mês, 14% dos internautas que acessaram a
internet no Brasil em dezembro eram crianças entre 2 e 11 anos. Em números
absolutos, a porcentagem representa 4 milhões de internautas mirins. Há 10 anos,
as crianças representavam 6% dos internautas que acessavam a internet.
A pesquisa levantou outros dados interessantes: mais da metade destas
crianças acessaram ao menos uma loja virtual ao navegar, 15% das visitas a sites
de jogos são feitos por crianças e elas representam 10% das visitas ao popular
site de relacionamento Orkut.
O acesso livre à internet nesta idade preocupa os pais - e não sem razão. A
rede deixa as crianças expostas a crimes que vão de uma simples fraude à
pedofilia. Isso sem contar que o excesso de tempo passado em frente ao
computador tira a criança de outras atividades recomendáveis, como brincar com
colegas, exercitar-se ou conviver com a família.
Sueli Caramello Uliano, pedagoga e Mestra em Letras pela Universidade de São
Paulo, é Presidente do Conselho da ONG Família Viva - e também mãe de família.
Para ela, o primeiro problema da internet é o vício. "O tempo passa enquanto
estamos navegando e nem nos damos conta. Qualquer pessoa, criança ou adulto,
corre o risco de não conseguir desligar-se do computador", diz.
Para escapar desta cilada, a palavra-chave é disciplina. Em termos práticos,
isso significa estabelecer um horário para uso da internet e respeitá-lo, além
de instalar filtros de segurança para limitar o acesso a sites impróprios.
"Também é prudente ter o computador num local de circulação e não dentro do
quarto, onde uma criança ou um adolescente podem acessar sites inconvenientes e
perigosos", recomenda.
Há quem defenda atitudes mais radicais, como Valdemar Setzer, professor
titular do Departamento de Ciências da Computação no Instituto de Matemática e
Estatística da Universidade de São Paulo, que acredita que o uso de computadores
por crianças menores de 16 ou 17 anos é um "crime contra a infância". Em artigo
citado em seu website, ele declara: "Senhores e senhoras, internet não é para
crianças e jovens. Ela exige uma maturidade fantástica, pois senão o seu usuario
vai perder uma enormidade de tempo navegando indisciplinadamente (...) por águas
muitas vezes sujas e que não levam a lugar nenhum".
Por outro lado, a rede é uma poderosa ferramenta de comunicação, pesquisa e
está cada vez mais presente no dia a dia. "A internet aproxima as pessoas e
permite amizades à distância", pontua Sueli. O ideal é sempre supervisionar o
acesso da criança à rede.
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