Alguns
discursos, na área da educação infantil, vêm sendo traçados, na medida em que
devemos resgatar os jogos, brinquedos e brincadeiras tidas como tradicionais.
Brinquedos como: pião de madeira; papagaio de papel, pipa, pandorga ou raia;
brincadeiras de bolinha de sabão; amarelinha; cantigas de roda; pé de lata,
entre outras tantas são consideradas como tradicionais dentro da educação
infantil.
Precisamos
refletir sobre isto, porque o que foi importante para uma geração pode não ser
mais interessante para outra, e forçar isto dentro da educação infantil como
sendo algo relevante, só porque é “moda” ou um “movimento” pode ser perigoso,
sem sentido e significado para a geração atual. E na educação precisamos sempre
pensar em aprendizagens significativas. Não que sou contra resgatar estes jogos,
brinquedos e brincadeiras, não é isso!
Vivenciei uma
situação muito interessante em uma creche. As estagiárias do curso de Pedagogia
quiseram fazer a brincadeira Pé de Lata com as crianças, para que todos pudessem
brincar. Pois bem, latas foram encapadas e furadas, colocado barbante para que
todos pudessem se equilibrar. Dia de sol, todos na quadra, parecia tudo
perfeito. Estagiárias animadíssimas e professoras também, crianças saltitantes
porque estavam em outro espaço e mais livres.
Na hora da
brincadeira, algumas crianças nem deram bola para o brinquedo, e resignificaram
o objeto brincando como se estivessem empurrando carrinhos. Enquanto isso, as professoras e
estagiárias que vivenciaram esta brincadeira na infância, se deliciavam em
momentos de alegria, resgatando, em suas memórias, situações significativas para
elas. Fiquei só observando, e sei que elas não estavam erradas e nem fizeram
isso com esta intenção, apenas queriam que as crianças também tivessem em sua
memória, quando adultas, as lembranças boas, mas não era isso o episódio que
acontecia com as crianças.
Fiquei
questionando: as crianças de hoje podem até brincar ou resignificar os
brinquedos tradicionais, mas para elas que nasceram e vivem na era tecnológica,
isso talvez não seja relevante, e possa parecer até estranho andar em cima de
latas.
É outra época,
outra geração, outro momento econômico, social, político, histórico e
tecnológico. Reinventar estas brincadeiras com outra roupagem, talvez fosse mais
interessante para as crianças, se elas gostassem de brincar! Já estão fazendo
isso com os brinquedos, por exemplo, o pião de madeira agora dá lugar ao pião de
plástico que acende luzes, muda de cor etc. O mesmo acontece com a bolinha de
sabão. Quando eu era criança, nós brincávamos com bolinha de sabão, com um copo
de água com detergente e o canudo era a folha de mamona, hoje existe um
recipiente plástico que contém o líquido e as crianças somente assopram. Existe
outro tipo de brinquedo hoje no mercado, que particularmente não gosto, que é
uma pistola que você aperta e sai bolinhas de sabão, parece um revólver, ou
melhor, é um revolver de bolinha de sabão. Isto merece uma reflexão, pois em uma
sociedade tão violenta, um brinquedo como este que parece ser inocente, pode
acabar incentivando a violência.
Mas voltando ao assunto, o que pode ser
interessante para os adultos, para as crianças não é e vice-versa. Perceber
estas sutilezas é necessário para que se possa trabalhar com a aprendizagem
significativa para as crianças. Também não pode ser abandonado o passado, então
porque não mostrar, por exemplo, quando brincar de bolinha de sabão, como era
realizada esta brincadeira no passado e as opções que temos hoje, isto é,
mostrar a evolução, a história viva, isso é resgatar a memória e trabalhar com
significância, porque é mostrar e vivenciar
todo o processo de mudança que nossa sociedade vive e que não tem mais volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário