segunda-feira, 16 de abril de 2012

* Uma escola que ensine a todos


Flexibilizar o espaço, o tempo, os recursos e o conteúdo é o caminho para a aprendizagem das crianças com necessidades especiais



Alexandro de Quadros Silva, portador de deficiência visual, em sala de aula na EE Professor Pereira da Costa

Todas as crianças e jovens com necessidades especiais devem estudar na escola regular. Isso é um direito. Mas nem sempre foi assim. Ao longo da história da Educação, as escolas trataram as crianças com deficiência como incapazes, necessitando de tratamento médico, não de ensino. Essa perspectiva começou a mudar a partir de 1948, com a Declaração Universal de Direitos Humanos, que garantiu o direito de todos à Educação. Demorou algumas décadas para, a partir dos anos 1990, a visão assistencialista ser deixada de lado e dar lugar ao conceito de inclusão, que ganhou um papel central em documentos internacionais, como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). 

Por muito tempo, vigoravam no Brasil políticas que segregavam os que tinham necessidades especiais ou condicionavam a participação deles em classes convencionais à capacidade de "acompanhar os alunos ditos normais", como cita a Política Nacional de Educação Especial de 1994. A ideia de que a escola precisava se adaptar às necessidades das crianças ficou clara somente com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, que define: todas as crianças e jovens com necessidades especiais devem estudar na escola regular. 

Contudo, para que o aluno aprenda, não basta que ele esteja matriculado. É primordial que a escola, as salas de aula e os profissionais que ali trabalham sejam preparados para que o ensino aconteça. "Quando a perspectiva ainda era a da segregação, o foco estava nas dificuldades das crianças. Os professores queriam checar o que elas não sabiam. Hoje se sabe que o primeiro passo é descobrir o que cada um conhece para criar situações de aprendizagem em que todos podem contribuir", explica a psicopedagoga Daniela Alonso, consultora da área de inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. 

Dessa forma, a tendência é o desaparecimento das escolas e turmas especiais. Os profissionais e as instituições especializadas passam assim a dar apoio às escolas regulares, orientando gestores, coordenadores pedagógicos e professores nas adaptações no currículo, na aquisição de recursos didáticos específicos e na busca de parcerias externas. 

Desde que os estudos sobre a psicogênese da língua escrita, como os da pesquisadora argentina Emilia Ferreiro, foram divulgados no Brasil, na década de 1980, há a clareza de que as crianças não aprendem no mesmo ritmo nem da mesma forma. Essa premissa - que vale para qualquer turma - é crucial quando se trabalha com crianças que têm necessidades especiais. O caminho apontado é o da flexibilização. "É preciso elaborar um plano educacional para cada estudante", recomenda Maria Teresa Mantoan, especialista em inclusão e professora da Universidade Estadual de Campinas. Existem vários tipos de flexibilização (e esse é o tema da edição especial Inclusão, de NOVA ESCOLA, que já está nas bancas). Ela precisa acontecer na escola em quatro frentes principais:

1- Inclusão via espaço
Adaptar o ambiente para que todos tenham acesso às dependências escolares. Isso inclui, além das mudanças essenciais - como a construção de rampas e a instalação de elevadores -, a sinalização de degraus, vãos e obstáculos, a reorganização da sala de aula, a identificação em braile dos materiais para os deficientes visuais e o treinamento dos funcionários para que acompanhem os deficientes físicos na locomoção.

2- Inclusão via tempo
Determinar períodos maiores para que os estudantes com necessidades especiais realizem tarefas mais complexas, aprendam os conteúdos, entreguem trabalhos e façam provas. Os estudantes com perda auditiva, por exemplo, precisam de mais tempo para se alfabetizar.

3- Inclusão via conteúdo
Adequar o currículo, o projeto pedagógico e o planejamento das aulas. Com isso, os alunos têm a oportunidade de aprender cada um dentro das suas possibilidades. Alguém com síndrome de Down, por exemplo, talvez não consiga fazer cálculos complexos, mas pode aprender a fazer contas simples.

4- Inclusão via recursos
Buscar materiais didáticos e novas estratégias de ensino. O uso de recursos como ilustrações e modelos em 3D facilita não só a aprendizagem dos alunos com deficiência, como da turma toda.

Ao atuar nessas quatro frentes, os gestores tornam a escola melhor para os estudantes com necessidades especiais e para todos que ali estão para aprender. "Pensar nas diferenças implica fazer muitas e variadas intervenções. Os caminhos da inclusão para atender a diversidade costumam sempre beneficiar o coletivo e melhorar a qualidade do ensino", finaliza Daniela Alonso.

Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/escola-ensina-todos-518562.shtml




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